CLAUDIO NASAJON

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Sócio-fundador da Nasajon Sistemas e da desenvolvedora de negócios Startup Legacy

A atual crise cambial na Argentina abre oportunidades interessantes para investidores e empresários brasileiros. Principalmente no terreno das startups, onde os volumes de recursos necessários para alavancar o crescimento são significativamente menores, e para as quais o Brasil representa um gigante assustador em função das diferenças culturais, parece haver espaço para ações ganha-ganha, nas quais os hermanos podem se beneficiar dos investimentos valorizados por um ágio de quase 90% do peso frente ao dólar (e ao real).

Em janeiro deste ano, de um dia para outro, o Banco Central da Argentina desvalorizou a moeda norte-americana em 30% e mudou as regras para a guarda de dólares pelos bancos, que os levou a liquidar as suas divisas. Nesse contexto, as empresas importadoras passaram a negociar prazos maiores de pagamento. Em agosto, contudo, a Argentina não conseguiu chegar a um acordo com os fundos “abutre” nas cortes americanas e os provedores externos, inquietos, passaram a cobrar as dívidas. O problema é que os dólares que iriam entrar no país como resultado do acordo, nunca chegaram, abrindo uma crise cambial com forte impacto no comércio interior.

Segundo a Câmara de Importadores da Argentina (CIRA), um número significativo de empresas de consumo de massa depende de importações para operar. Ante a falta de dólares oficiais, para honrar os compromissos e continuar importando, essas empresas voltam-se para o mercado paralelo, cuja conversão na semana passada era de quase 16 pesos por dólar contra 8,60 do oficial. A diferença do câmbio permite que um turista troque seus dólares no blue e consiga comprar as mercadorias quase pela metade do seu valor original. O problema é que na via contrária, um importador que precisa comprar mercadorias em dólares paga quase o dobro pelos insumos, com impacto correspondente nos custos de produção.

Não é preciso muito para prever a escalada inflacionária e uma tendência de aumento da diferença cambial, caso não sejam implementadas mudanças radicais na economia.

Esse era o cenário na semana passada, quando visitei duas das mais importantes aceleradoras de negócios da Argentina, a Wayra, da Telefônica, e a Nxtp Labs, que conta com o apoio de mais de 80 investidores privados. Em ambas a proposta de conectar as startups com empresas brasileiras que tenham bases de clientes aderentes aos seus produtos ou serviços teve uma receptividade esplêndida.

A possibilidade de acessar canais de distribuição no Brasil (que pagam em reais), principalmente para negócios digitais que não exigem investimento de infraestrutura local, apresenta um holofote no fim do túnel. Para as startups argentinas sempre foi difícil entrar no Brasil, onde as barreiras de língua e cultura parecem representar uma “caixa preta” que a maioria sente insegurança em abrir.

A proposta parece funcionar de ambos os lados. Se considerarmos que nenhuma crise dura para sempre, investidores e empresas brasileiras que coloquem o pé no mercado argentino, de cerca de 30 milhões de consumidores, terão um trunfo importante no médio prazo. A Argentina não vai afundar. O mais provável é que, após as eleições de 2015, com a mandatória troca de governo, a economia volte aos eixos. Nesse contexto, quem criou os laços agora terá vantagens no terceiro maior mercado da América Latina. Típico acordo ganha-ganha, onde todos podem se beneficiar de uma situação que, embora temporária, pode ter impacto de longo prazo nas relações econômicas bilaterais.

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