CLAUDIO NASAJON

Autor: Mauro Wainstock, jornalista / cronista / editor de livros

Bandeira criada por funcionários da Nasajon

Milhões em ação, pra frente Brasil, no meu coração… De repente é aquela corrente pra frente, parece que todo o Brasil deu a mão!

Em pleno regime militar, vozes orgulhosas, mesmo silenciadas, gritaram “é campeão!”. Hoje, democráticos cartazes sem rosto levantam a mensagem da esperança. Com o brado retumbante, acordaram o gigante, que parecia estar deitado eternamente em berço esplêndido. Um povo heroico: que sonha em andar sem medo, em viver sem tanto sofrimento, em dar o exemplo.

MAS…
Não quero apenas civismo e patriotismo. Quero a paz no futuro, quero o sol da liberdade em raios fúlgidos, quero que o amor eterno seja símbolo.

Não quero apenas mudar o Brasil, quero mudar para melhor.
Não quero desculpar transtornos, quero receber retornos.
Não quero apenas ser ouvido. Quero pragmatismo.
Não quero ser qualificado de centro, de direita ou de esquerda; de jovem, adulto ou idoso; de classe baixa, média ou alta. Quero ser cidadão, influenciar na decisão.
Mas não quero ser chamado de companheiro. Quero fazer parte de um Brasil brasileiro.
Não quero máscaras, quero caras limpas!
Não quero precisar gritar, mas também não posso me calar.
Não quero apenas mobilização ou manifestação, quero determinação e ação.
Não quero apenas protestar ou sonhar, quero dialogar e realizar.
Cansei de ser eternamente o país do futuro. Quero ser agora o país “padrão
FIFA”.

Não quero ficar em penúltimo lugar no ranking mundial de qualidade de educação (*1). Nem preciso de médicos estrangeiros. Se é para trazer do exterior, que importem de lá a dignidade. E se importem aqui com a honestidade.
Não admito a quebra de prefeituras, mas também é inadmissível prefeituras quebradas.
Quero poder vaiar pacífica e publicamente. Falta de respeito é ignorar 1,9 milhão assinaturas na mão, protestos que ficaram em vão.
Quero ordem e progresso. Mas também emprego e segurança.
Sim, R$ 0,20 são importantes para mim, assim como R$ 2,7 bilhões valem muito para nós. (2*)

Não quero “PIBinho” de 0,9%, juros de 8%, nem carga tributária de 36%.
Mas quero, sim, a Copa do Mundo. Quero receber investimentos, abraçar turistas, vivenciar momentos de diversão e alegria. Quero vibrar de orgulho! O que não quero é pagar a inflacionada e injustificada conta de quase R$ 26 bilhões. (3*)
Não quero comemorar pesquisas de opinião que dão recordes de aprovação.
Preciso é de respostas definitivas à corrupção!

Não quero marketeiro em reunião presidencial, nem imagens maquiadas em rede nacional obrigatória.
Mas também quero tornar obrigatória a cadeia nacional para condenados: sejam descamisados ou excelências, sejam decadentes ou influentes.

Não quero politiqueiros de televisão, mas parlamentares comprometidos de verdade com a população.
Quero partidos políticos, mas preciso que pelo menos um deles seja realmente de oposição. Não quero que sejam partidos, mas que tomem partido.
Que compartilhem o mesmo ideal e não dividam apenas as verbas e usufruam do coeficiente eleitoral.

Não quero uma democracia que rime com hipocrisia: que transforma o direito de escolher em dever obrigatório, que permite ao representante do povo “votar secretamente”, que possibilita que menos votados ocupem a cadeira dos escolhidos pela maioria.

Não admito fanatismo, nepotismo nem despotismo. Chega!
Não quero retórica eloquente nem envolvente. Estou descrente.
Quero dar um ponto final à perversão moral generalizada, mas também tocar na consciência ética individual, fazendo “mea culpa”: não posso acusar o sistema pelos números que teclo solitário na urna. Eu digito, eu decido!
Também não quero desperdiçar R$ 21 bilhões/ano dos cofres públicos para tratar doenças relacionadas ao tabaco. Nem perder R$ 40 bilhões/ano para a guerra do trânsito.

Não quero apenas poderes republicanos. Quero o poder que emana do povo e em nome dele seja exercido.
Não quero apenas um Judiciário, quero justiça.
Não quero apenas leis, mas quero que elas sejam cumpridas.
Não quero um Executivo ora patriarcal ora eleitoral, mas que segure com consciência e firmeza a caneta governamental.
Não quero apenas ser um país rico, sem pobreza. Antes preciso ter um Brasil decente, sem tristeza.

Sim, quero sair das redes sociais e ir para as ruas, mostrar a cara. Com camisa branca e levantando a bandeira verde e amarela. Não apenas para torcer, mas para fazer acontecer. Não necessariamente para caminhar, mas para ajudar. Não me contento apenas com a esperança, quero participar da mudança.

Não quero ser o último a apagar a luz. Não quero choques, mas muita energia positiva. Quero ver a luz do povo brasileiro brilhar no céu da pátria nesse instante.
Quero, do fundo do coração, com toda a emoção, berrar: “É campeão, melhoramos a nossa pátria amada, Brasil!!!”

Como disse a escritora brasileira Clarice Lispector…
“Mude, mas mude devagar, porque a direção é mais importante do que a velocidade”.


1* – Pesquisa realizada em 2012/Economist Intelligence Unit, que comparou 40 países sobre a qualidade da Educação.
2* – Perda da receita da Prefeitura de São Paulo com a tarifa de ônibus congelada em R$ 3,00 até 2016.
3* – A Alemanha gastou R$ 10,7 bilhões com a Copa do Mundo de 2006. A África do Sul gastou R$ 7,3 bilhões em 2010.

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