Minha percepção é que a situação na Ucrânia deve arrefecer em algumas semanas (sem juízo de valor quanto à justiça do resultado). Os aliados da OTAN provavelmente não se envolverão numa escalada militar contra a invasora porque é mais conveniente abrir mão da Ucrânia, do que enfrentar uma terceira guerra mundial.
Do lado russo, uma vez neutralizada a ameaça da Ucrânia entrar na União Europeia e garantida uma saída para o mar, via Crimeia já anexada, não há motivos para continuar a ofensiva militar. A tendência será estabelecer um “novo normal” com a Ucrânia independente, mas isolada, servindo como colchão tanto para a Rússia, quanto para a Europa.
O problema é que a guerra vai deixar marcas e essas marcas tendem a repercutir nos negócios, inclusive no Brasil, mesmo que não tenhamos muito a ver com tudo o que se passou por lá.
Como a guerra pode nos afetar
Mesmo na provável hipótese de não termos que enfrentar um descontrole de armas militares, incluindo biológicas e nucleares, que poderiam gerar consequências em nosso meio-ambiente e disparar cenários parecidos com a COVID-19 em seus piores momentos, o simples fato de as nações retaliarem com sanções econômicas, deve gerar escassez de insumos com reflexos em toda a cadeia produtiva.
Num primeiro momento espero uma inflação galopante devido à alta nos preços de materiais e serviços vindos do bloco oriental que, agora, ficarão indisponíveis ou mais complicados de obter.
Você pode imaginar que não depende de insumos da Rússia, mas entenda que hoje em dia o mundo está conectado. Coisas que você usa no seu dia a dia, como Whatsapp, Google, Waze, operadoras de cartão de crédito e até as redes de internet ou telefonia, são controlados por empresas estrangeiras.
O que você pode perder se não se preparar
Imagine uma situação em que a Rússia, como retaliação à suspensão dos serviços das grandes empresas americanas, decida lançar ataques cibernéticos (área onde eles têm expertise reconhecida) que cortam ou dificultam as operações da VISA e da MASTERCARD.
Aliás, não precisa imaginar. Basta lembrar do ano passado quando o Whatsapp ficou fora do ar por quase dois dias ou do mês passado, quando o Itaú ficou fora do ar por um dia. Agora imagine isso elevado à décima potência…
O Brasil não tem nada com isso, mas os Estados Unidos e a Europa, onde estão as sedes das empresas, os servidores de dados e boa parte da infraestrutura, tem – e nós vamos na carona.
Como prever e mitigar ameaças ao seu negócio
Então, se você reconhecer que existe um risco real numa crise qualquer e que isso pode atrapalhar os seus negócios, nada mais inteligente do que se preparar para enfrentá-la.
Eu tenho um método que aplico com regularidade nas minhas empresas para prever e mitigar riscos. Consiste em três etapas:
1. Identifique os riscos.
Quanto mais gente melhor porque duas cabeças pensam melhor do que uma. Por isso, se não puder participar dos meus workshops, junte o seu time para identificar potenciais riscos considerando as suas operações atuais (e a dos seus fornecedores). O que pode acontecer no caso de a crise se estender mais do que o previsto?
2. Estabeleça sinais de alerta
Numa segunda etapa, identifique “sinais” que permitam perceber se as situações previstas estão, de fato, acontecendo. Quando estamos no meio da crise é muito difícil ter essa noção. Se o sapo na panela não tiver um termômetro que dispare um alerta ao chegar na temperatura máxima, ele morre aos pouquinhos, sem perceber.
3. Planeje as ações de contingência
Finalmente, numa terceira etapa, priorize os riscos (com base na probabilidade de eles acontecerem e no impacto que teriam em seu negócio), estabelecendo protocolos para mitigá-los.
Se os cartões de crédito ficarem inacessíveis, como não perder vendas? Se ficar sem telefone, que outros canais podem ser usados para os pedidos? Se o sistema de transportes travar (sim, isso pode acontecer), como evitar a paralização das operações?
Um protocolo pode ser tão simples quanto deixar algumas pessoas de sobreaviso ou estabelecer códigos de conduta, caso as comunicações sejam interrompidas, por exemplo.
Na NASAJON, quando o trabalho era realizado na sede (hoje é 100% remoto), os funcionários tinham instruções claras de como agir no caso de uma greve de ônibus, que às vezes era deflagrada da noite para o dia, sem dar tempo às empresas de se preparar.
Os protocolos incluíam listas de colegas para transporte solidário e pontos de encontro que eram atualizados a cada seis meses e facilitaram, várias vezes, o enfrentamento desse tipo de situação.
Hoje temos protocolos para eventuais dificuldades com telefonia, internet, transportes, fechamento de bancos, greves etc.
Essas situações não são agradáveis e nem evitam custos extras, mas pelo menos não nos pegam de calças curtas e o prejuízo é muito menor do que se tivéssemos que improvisar em plena crise.
Quando a pandemia da COVID-19 apareceu, por exemplo, nós estávamos preparados. Transferimos 100% da nossa operação para home-office em 10 dias.
Como? Simples: já sabíamos o que fazer, tínhamos o conhecimento. Havíamos previsto incidentes que nos impediriam acesso à sede e criamos um “laboratório” de 5 pessoas que trabalhavam remotamente.
Claro que não previmos especificamente a pandemia, mas imaginamos que poderia haver um incêndio no prédio ou alguma desordem pública que impedisse o acesso, então quando a pandemia chegou e precisamos enviar 265 pessoas para home-office, já conhecíamos o caminho.
Workshop online: Gestão de riscos
Na sexta-feira 18 de março, das 10h às 13h, vou conduzir o workshop online, ao vivo, sobre “Gestão de riscos – como prever e mitigar ameaças ao seu negócio”.
O objetivo é ajudar você a identificar potenciais riscos ao negócio (e respectivos sinais de alerta) e planejar ações para mitigá-los, caso ocorram.
Será um evento totalmente prático, mão na massa, usando a guerra na Ucrânia como pano de fundo, mas aplicável a qualquer crise que você venha a enfrentar no futuro.
Para participar do workshop “Gestão de riscos – como prever e mitigar ameaças ao seu negócio”, inscreva-se aqui: claudionasajon.com.br/cursos/gestao-de-riscos
Boa semana!